Opaco
Poema de Claudia Roquette-Pinto
Obscura aurora desse corpo
na luz desacordada.
O que, além de mim, desperta
no quarto vago, vaga
entre a onda iluminada sobre a hortênsia
e o pensamento, opaco:
mais um dia a atravessar do avesso,
comendo pelas beiradas
a papa fria das conversas,
as caras de tacho e borracha
chapadas contra o meu céu
(onde boiam as coisas de verdade:
espirais de fogo,
sua boca contra a minha,
as palavras do sonho, que perdi).
Fonte: "Margem de manobra", Editora Aeroplano, 2005.
Originalmente publicado em: "Margem de manobra", Editora Aeroplano, 2005.