numa estrada

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Poema de Claudia Roquette-Pinto



a noite é um sopro doce e degenera
o bafo do que ainda vai morrer
o som da roda o asfalto não sossega
e chispa o trilho do trem o trilho do trem
a noite é uma espera fraudulenta
que as horas tecem sempre recomeça
as árvores esgarçam sua pele
com unhas de fumaça
a noite insone torce e mastiga
o som que a boca nunca pronuncia
a noite entrega a carne arrependida
à avidez da lâmina do dia.




Fonte: "Os dias gagos", Edição da autora, 1991.
Originalmente publicado em: "Os dias gagos", Edição da autora, 1991.