A dança dos tangarás
Poema de Ricardo Gonçalves
Na mata aromal, que é um templo,
Cheio de sombra e de paz,
Horas perdidas contemplo,
Sobre um relvoso tapete,
Esse engraçado minuete
Que dançam os tangarás.
Canta um sabiá na espessura
A merencoria canção.
Limpo de nuvens, fulgura,
Entre o rendilhado crivo
Das árvores, o festivo
Azul de um céu de verão.
E, sob um teto odorante,
Se aduna o bando jovial:
Tem um penacho o marcante;
O córrego sonolento
Murmura o acompanhamento
Com trinclidos de cristal.
Na mata umbrosa, que é um templo,
Cheio de aroma e de paz,
Horas perdidas contemplo,
Sobre o tapete da relva,
A maravilha da selva,
A dança dos tangarás.
Fonte: "Ipês", Monteiro Lobato & Cia, 1921.
Originalmente publicado em: "Ipês", Monteiro Lobato & Cia, 1921.