Quadras populares 941 a 960
Poema anônimo
941
Teus olhos são duas luas
Na noite que me arrepia;
Vertem uma luz difusa
Que não é sombra nem dia.
943
Tu roubaste o meu sossego,
Vive minha alma em ardor,
Sofrendo com paciência
Ânsias, ais, penas e dor.
944
Tu és a flor de minha alma,
Eu por ti tudo daria;
Nos escarcéus da desgraça
Eu por ti me lançaria.
945
Tu te queixas, eu me queixo.
Qual de nós terá razão?
Tu te queixas dos meus erros,
Eu da tua ingratidão.
946
Todo amante que não ama,
Amor que corre perigo,
Ou com pouco se acobarda
Ou não tem gosto consigo.
947
Triste coisa é querer bem
Quando existe impedimento:
Quando quer falar não pode,
Quando pode não tem tempo.
948
Tico-tico foi a Roma,
Foi buscar meu pensamento;
Trouxe o nome de Maria
Para meu contentamento.
940
Teus olhos tem tanta luz
Que, não sei por que segredo,
Quando eu olho pra teus olhos
Estremeço, tenho medo.
950
Tenho fome, tenho sede
E você não adivinha:
Tenho fome dum abraço
E sede duma boquinha.
951
Tenho o meu relógio d’ouro
Com ponteiros de marfim;
O dia que não te vejo
São cem anos para mim.
952
Tenho medo de teus olhos
Quando se fitam em mim;
Tenho medo que enlouqueça,
Nunca vi olhar assim.
953
Tenho um lenço de ciúme
Atadinho pelas pontas
Para dar a meu benzinho
Quando fizermos as contas.
954
Todo verso que eu sabia
Veio o vento e carregou,
Só amar e querer bem
Na memória me ficou.
955
Uma esperança algum dia
Consoladora nos diz
Que entre os dias desgraçados
Lá vem um dia feliz.
956
Uma morena faceira
Não precisa de rezar:
Basta o encanto que ela tem
Pra sua alma se salvar.
957
Um passarinho voando
Em meu ombro se assentou,
E me deu uma saudade
Que minha mãe me mandou.
958
Urubu quando infeliz
Não há pau que agasalhe:
Se senta no verde - seca,
Se senta no seco — cai.
959
Uma ingrata que me ofende,
Que merece que eu lhe faça?
É não fazer caso dela,
Que pra castigo já passa.
960
Uma vida que me falta,
A metade de meu ser,
Quero num beijo amoroso
De teus lábios receber.
Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.