Quadras populares 921 a 940
Poema anônimo
921
Saudade que de ti tenho
Não posso mandar dizer:
Algum dia contarei
Quando tornar a te ver.
922
Se eu fosse podre de rico
Não moraria no mato;
Morava mais a Lorinda
Dentro da rua do Crato.
923
Senhora dona da casa,
Por favor a porta abra,
Que eu não sou que nem cabrito
Que mama dois numa cabra.
924
Sexta-feira da Paixão
Comi um quarto de bode;
A Deus eu peço perdão:
Cada um faz o que pode.
925
Todo cativo procura
Ter a sua liberdade:
Eu procurei cativeiro
Por minha livre vontade.
927
Tirana, minha tirana,
Ai ! tirana de Irajá!
Aquilo que nós falamos
Tomara que fosse já.
928
Ai ! tirana de Irajá!
Aquilo que nós falamos
Tomara que fosse já.
928
Triste vida de quem vive
Rolando em cantos alheios;
Come e dorme aos bocadinhos,
Bebe e ama com receio.
929
Tico-tico rasteirinho
Tira os galhos do caminho
Que eu quero passear.
Tenho medo dos espinhos.
930
Tenho o meu chapéu de palha
Que custou mil e quinhentos;
Quando o ponho na cabeça
Não me faltam casamentos.
931
Tenho o meu chapéu de palha,
De pano não posso ter:
De pano custa dinheiro,
De palha posso fazer.
932
Tanto bem que já te quis,
Tanto mal ’tou te querendo!
Deus permita que inda veja
Urubu ’star te comendo.
933
Tenho sede, tenho fome
Não de carne, nem de vinho.
Tenho fome de um abraço,
Tenho sede de um carinho.
934
’Tou com catarro na unha,
Dor de dente no cachaço;
Não vejo das sobrancelhas,
Não enxergo deste braço.
935
Tudo que nasce no mundo
Tem seu fim particular;
Tudo nasce com destino;
Eu nasci para te amar.
936
Tu me disseste: sou tua;
Também te digo: sou teu;
Te peço também te lembres
Deste pobre nome meu.
937
Tenha embora um outro a palma
Bem direi o teu sofrer!
Este amor que punge na alma
Morrerá quando eu morrer!
938
Teu falar rouba a mente,
Teu sorrir tem sedução;
Teu andar machuca a gente,
Faz cativo o coração.
939
Tristonha morada guarda
De meu bem sua figura;
Que os meus suspiros rodeiem
Sua triste sepultura.
940
Tenho um bichinho cá dentro
Que às vezes me faz chiar;
Quanto mais sufoco o bicho,
Mais ardente quer pular.
Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.