Tonalá

Imagem de Ronald de Carvalho

Poema de Ronald de Carvalho



Pintada por um alfarero,
debaixo dos cardos maciços,
Tonalá é uma china poblana,
agachada na terra,
vestida de barro cinzento, de chita e miçanga,
fazendo tibores e pratos de argila.

Nossa Senhora de Guadalupe ri em todos os nichos
com grandes olhes de vidro e bochechas rosadas
para as indiazinhas que mordem tamales
e para os gorriones que brincam de esconder com o sol nas hortas verdes.
Em cada pátio a louça crua estala na luz,
na luz de Jalisco intrigante, plebéia,
que salta nas sombras
pula nos muros
molha-se nos charcos
e cai das árvores
como as tunas maduras
e baila no chão
rola
ciranda
repiquetea
como a sandália de verniz de um jarabe pachola
e fica assustando o ar
como o lenço vermelho de uma novilhada brava!

Sobre a porta das casas de adobe,
vestida de china poblana,
Nossa Senhora de Guadalupe ri em todos os nichos
com os olhos de vidro bem abertos e as bochechas bem rosadas,
ri para o dia tranquilo,
para as estradas que mergulham no silêncio morno,
para os cães que ressonam com o focinho entre as patas,
ri para o céu azul e brunido,
azul e brunido como os olhos de vidro de
Nossa Senhora de Guadalupe!



Fonte: "Poemas e sonetos", Leite Ribeiro & Mourillo, 1919.
Originalmente publicado em: "Poemas e sonetos", Leite Ribeiro & Mourillo, 1919.




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