Quadras populares 621 a 640
Poema anônimo
622
Na folha da pimenteira
Tem um verde amarelado:
Na boca de meu benzinho
Tem um doce açucarado.
623
Não cuide que por estar longe
O nosso amor se acabou,
Pois ainda está mais forte
Do que quando começou.
624
Não vejo prenda mimosa
Que te possa oferecer:
Só tenho o meu amor firme
Para dar-te até morrer.
625
No fundo do mar se cria
Rei dos peixes, nadador:
No mundo também se cria
Olhos pretos, matador.
626
Na hora em que Deus começa
Padre, Filho, Espírito Santo,
Quero me benzer primeiro
Pra me livrar de quebranto.
627
No ventre da Virgem Pura
Entrou a divina graça;
Como entrou também saiu
Como o sol pela vidraça.
628
Nesta viola de pinho
Cantam dois canários dentro;
Não pode ter bom juízo
Quem tem vários pensamentos.
629
No tempo da seca grande
Neto brigava com a vó,
Filho brigava com a mãe
Pelo beiju de potó.
630
Não temo ponta de faca
Nem bala de clavinote:
Eu só temo a Deus no céu
E, abaixo de Deus, a morte.
631
No sertão é belo ver
A seriema cantar,
A onça roncar na serra,
A arara grilar no ar.
632
O rio Jequitinhonha
Junto à serra Vara-Pau
É rio tão sem-vergonha
Que cachorro passa a vau.
633
Ó galego pé de chumbo,
Calcanhar de frigideira,
Quem te deu autoridade
De casar com brasileira?
634
634
Ó meu amor de tão longe,
Chega-te cá para perto,
Que me dói o coração
De te ver nesse deserto.
635
Ó senhora mãe da noiva,
Saia fora da cozinha,
Venha ver a sua filha
Como está tão bonitinha.
636
O soldado que é valente
Passa a vida a batalhar;
O soldado que é mofino
Passa a vida a namorar.
637
Ó de casa, nobre gente.
Escutai e ouvireis;
Lá das bandas do Oriente
São chegados os Três Reis.
638
O fado veio no mundo
Para amparo da pobreza:
Quando me vejo num fado
Não me importo co’a riqueza.
640
O Divino entra contente
Nas casas mais pobrezinhas;
Toda esmola ele recebe:
Frangos, perus e galinhas.
Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.