198. Maré


Poema de crroma



Calunga grande inquietou enormidades,
pegou quizila dessa gente
de empesteados despejos.
Calou a curimba.
Marabó se arredou para depois do horizonte.
A areia da praia vai pela onda engolida.

Quem vive do mar tem a maré como guia.
Maré alta,
maré cheia,
chegando inverno, vinha.
Calunga grande quizilou dessa gente
de arrastos e de plásticos.
Na beira do mar se escutou seu suspiro de cansaço.

Pemba se jogou fora,
muda ficou a curimba.
Falange do mar bota maré qualquer momento
na enseada pontal baía
- em toda costa brasileira,
vem volumosa de surpresas.

Maré grande,
maré cheia
ocorre num se dar nas telhas.
O mar embaralhou de feitiços
para difícil entendimento do jangadeiro.
Apenados os pescadores;
maré bate inesperada,
o mangue fica empoçado,
o mar dá menos peixe.

Calunga grande de águas encalmadiças
rompe os ciclos,
quebranta as safras do pescado.
Escassearam mariscos e outros frutos.
Quem vive do mar navega
por distâncias alongadas.
A maré vem,
a maré grande,
num se dar nas telhas.




(Do Brasil de Fato: 'Marés instáveis, peixes escassos: pescadores lidam há décadas com impactos da crise climática')