Sôbolos rios que vão
Poema de Mario Quintana
Olha, eu talvez seja esse
cadáver desconhecido
que avistam sob uma ponte
com relativo interesse:
nem sei mais se me matei
se morri por distraído
se me atiraram do cais
- o mistério é mais profundo,
muito mais...
Vida, sonho de um segundo
- isso é vulgar mas atroz -
e tenho pena de mim
como a que eu tenho de vós...
e sigo
todo florido
destes nossos velhos sonhos
imortais
- ó mistério tão sem fim -
eu sigo todo florido,
cadáver desconhecido
vogando, lento, à deriva
nos rios todos do mundo!
Fonte: "Poesia Completa", Editora Nova Aguilar, 2006.
Originalmente publicado em: "Esconderijos do tempo", 1980.