Visão de Portinari
Poema de Henriqueta Lisboa
Num relâmpago o céu
coalhado de anjos.
Não auréolas nem mitos.
Porém blocos oblíquos
de topázios cortando
azul intacto
em réstias.
E nem asas:
flocos de lodo branco
ressuscitados do poço,
resíduos de êxodo com nódoas
de lepra e cães,
anjos de escória, os anjos.
Anjos de São Francisco esquálido
tangido pelos quatro ventos,
pele e ossos, o caule
de terra deitando terra
com raízes e brotos
no éter.
Nos galhos da árvore sem sombra
corujas broncas
em pouso.
Fonte: "Obra completa", Editora Peirópolis, 2020.
Originalmente publicado em: "Miradouro e outros poemas", Editora Nova Fronteira, 1976.
Fonte: "Obra completa", Editora Peirópolis, 2020.
Originalmente publicado em: "Miradouro e outros poemas", Editora Nova Fronteira, 1976.