Tortura íntima - Carlos de Bonhomme (Sarah de Tobias)

Imagem de Sarah de Tobias, pseudônimo do poeta do parnasianismo Carlos de Bonhomme

Poema de Carlos de Bonhomme (Sarah de Tobias)



Dentro da obscura noite a música sonora
De um beijo ecoa mansamente...

A sombra inclina a fronte sonhadora
E envolve o verde corpo ardente
Da Natureza virgem...

É a hora da vertigem...
E até parece
Que o silêncio, embalado na sombra, adormece.

No céu distante, as primeiras estrelas
Palpitam amorosas.

Um queixume de folhas amarelas
E um perfume de rosas
Erram pelo infinito...

E na paz emoliente dessa hora
Eu choro e ardo em febre e me agito.

A calma sonhadora
Desta noite sem luar
Agita o meu desejo, e me devora
A infinita vontade de pecar...

E tenho ânsias de amar... de apertar o Infinito
E de lançar a esmo o meu triunfante grito...

Dói-me a tortura de não ter amado
E levo dentro da alma essa tristeza,
Vendo vibrar na sombra a Natureza
No espasmo delicioso do pecado...




Fonte: "Emoções secretas", Placido & Silva Editores, 1924.
Originalmente publicado em: "Emoções secretas", Placido & Silva Editores, 1924.