Quadras populares 581 a 600


Poema anônimo



581

Menina, por teu respeito
Vivo dormindo nos matos,
Todo coberto de cisco,
Todo roído de ratos.

582

Menina, quando te fores
Me escreve lá do caminho;
Se não tiveres papel,
Nas asas de um passarinho.

583

Meu benzinho está doente,
De longe eu ouço os gemidos;
Grandes tormentos padece
Ouem tem amor escondido.

585

Menina, dai-me um abraço
E um beijo por despedida,
Que me vou pra Mato Grosso
Findar por lá minha vida.

586

Não há vida tão contente
Como a nossa do sertão,
Quando o ano é bom de inverno
Que no céu ronca o trovão.

587

Não tenho medo dos homens
Nem do ronco que eles têm;
O besouro também ronca,
Vai-se ver, não é ninguém.

588

Nesta rua tem um bode
Que se chama Escuridão,
Dentre dele mora um anjo
Que roubou meu coração.

589

No jardim vi duas rosas
Enfeitando o mesmo galho:
Esparziam o mesmo aroma
E bebiam o mesmo orvalho.

590

Não ames jamais, criança,
Não queiras saber de amor,
- Essa dor de sentimento
Suave, consolador.

591

Nesta noite tão ditosa
É bom que vós não durmais,
Porque tão alta ventura
É justo que não percais.

592

Não te dou meu coração
Porque não o posso arrancar;
Arrancando sei que morro,
Morta não posso te amar.

594

Não fazia da salsa verde
No fundo d’água murchar;
Não fazia do meu amor
De tão cedo me deixar.

595

Nestas veias cujo sangue
Muito cedo há de esgotar,
Injeto o fel do ciúme,
Não tem dó do meu penar.

596
.
Neste mundo de incerteza
Dê daqui, dê dacolá,
O mundo corre co’a sorte,
A sorte Deus é quem dá.

597

No jardim deste meu peito
Já não pode amor nascer;
Nasceu saudade cruenta
Me fazendo padecer.

598

Não é a mágoa que tenho
Que me há de devorar;
É o tormento que sofro
De querer dissimular.

599

Na astúcia e no querer
É inútil o rigor,
Porque têm maior poder
A mocidade e o amor.

600

Noite escura, temerosa,
Relampo que mete medo.
Se força d’amor é muita
Topada não quebra dedo.



Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.

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