Quadras populares 541 a 560


Poema anônimo



543

Maria me deu um cravo
Sexta-feira da Paixão:
Eu pus o cravo no peito,
Maria no coração.

544

Minha mãe é uma coruja.
Mora no oco do pau;
Meu pai, um cachorro velho
Tocador de berimbau.

545

Morena, se tu soubesses
Quanto te amo e quero bem,
Tu não rias nem brincavas
Perto de mim com ninguém.

546

Marimbondo pequenino
Que não sabe sociar,
Larga a terra, larga o mar
Pra fazer casa no ar.

54;.

Meu benzim quer que eu lhe rogue,
Eu não sei rogar ninguém:
Arrenego dos amores
Que a poder de rogo vêm.

548

Mandei fazer um barquinho
De galhinhos de alecrim,
Para embarcar meu benzinho
Da horta para o jardim.

549

Menina, tome esse lenço
E não conte quem lhe deu;
Adiante vai o lenço,
Atrás do lenço vou eu.

550

Meu pai chama João Caco,
Minha mãe Caca Maria,
Oh, meu Deus, com tanto caco
Sou filho da cacaria.

551

Morena, minha morena,
Chega tua boca na minha;
Teu corpo junta c’o meu
Como a faca na bainha.

552

Menina, me dá seu lenço
Para o meu rosto enxugá;
Não sei o que tem seu lenço,
Quando eu peço ocê não dá.

553

Minha mãe chama-se Rosa,
Eu sou filho da Roseira:
Como não hei de gostar
De uma flor que tanto cheira?

554

Minha faca aparelhada,
Minha garrucha na mão;
Adeus, meu benzinho, adeus,
Vou-me embora pro sertão.

555

Menina, enxerguei teu rasto
Lá na areia do sertão.
Morena, tem dó de mim
Que por ti tenho paixão.

556

Minha mula russa-bomba
Pintada de preto e branco,
Quando eu quero ver meu bem
Não tem morro nem barranco.

557

Mandei fazer um barquinho
Da casca de pau de cedro
Para mandar meu rival
Às profundezas do inferno.

558

Meu cavalo é russo pombo,
Minha mula é pangaré;
Meu cavalo põe a mão,
Minha mula põe o pé.

559

Minha faca aparelhada,
Minha garrucha laporte,
Encostado em meu amor
Não tenho medo da morte.

(Laporte = igual às garruchas fabricadas pela indústria Laport)

560

Menina dos olhos d’água,
Me dá água pra beber:
Não é sede, não é nada,
É vontade de te ver.



Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.

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