Quadras populares 61 a 80


Poema anônimo



61

Amo-te! - tu me desprezas
Sem de mim ter compaixão;
Não me olhes se não queres
Prender o meu coração.

62

Agora conheço a falta,
Não suporto este viver;
E infeliz quem não tem
Um bichinho a lhe roer.

63

A minha faca de ponta
Ai! nunca me abandonou;
Inda mal o sol desponta
Há muito com ela estou.

64

Ao Boi Barroso hei de um dia
Bolear em linda ganchada,
E levá-lo, maneado,
Aos pés de chinoca amada.

65

As caturritas em bando
Passam todas, lá se vão...
Assim partissem, voando,
As penas do coração.

66

Acabou-se, não há mais
Quem por mim formava guerra;
Sabe Deus e todo mundo
Que o caboclo tá na terra.

67

A rainha foi-se embora,
Coitadinha, foi chorando,
Por amor de sua coroa
Que ela tava governando.

(Alusão à imperatriz do Brasil D. Teresa Cristina que foi deportada)

68

A mãe de Deodoro disse
- Este filho já foi meu;
Agora tá maldiçoado
Da minha parte e de Deus.

(Marechal Deodoro da Fonseca)

69

A folha da bananeira
De comprida amarelou;
A boca de meu benzinho
De tão doce açucarou.

70

Alfavaca ramalhuda
Bota flor, bota semente;
Quem tomar amor comigo
Passa trabalho e não sente.

71

A moça que for bonita
Já mala por devoção:
O dia em que ela não mata
Quase morre de paixão.

73
Andei no sertão, nas matas,
Nas caatingas, nas campinas,
Mas nunca encontrei parelha
Pras vargens de Diamantina.

74

Ai, meu bem, você me mata,
Eu não quero morrer, não:
Se eu morrer você me enterra
Na cova do coração.

75

A perdiz chora no campo,
A pomba no carrascão:
A perdiz por ter saudade,
A pomba por ter paixão.

76

Amigo, passa um cigarro
Que eu também sou fumadô:
A pontinha que eu trazia
Caiu n'água e se molhou.

77

A senhora desta casa
É como o manjericão:
Quer de seca, quer de verde,
Nunca muda de feição.

78

Atirei meu lenço branco
Que na arve foi abrir:
Amor firme nesta terra
Não se pode possuir.

(Arve: árvore)

79

Arranquei do ferro frio,
Fiz o povo recuar.
Eu sou cabra perigoso,
É bom não facilitar.

(Ferro frio: arma branca)

80

Ai, que dor no coração,
Que eu não posso mais sofrer!
Saudade do meu irmão
Que na guerra foi morrer!



Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.

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