Quadras populares 481 a 500


Poema anônimo



481

Moça bonita é veneno,
Mata tudo que é vivente:
Embebeda as criaturas,
Tira a vergonha da gente.

482

Menina, toma seu lenço
Que eu achei no areão;
Numa ponta cheira a cravo,
Na outra a manjericão.

483

Menino, segura a bola,
Não deixe a bola virar,
A bola custa dinheiro,
Dinheiro custa a ganhar.

484

Minha tropa já chegou
E a boneca ficou lá.
Deito na cama e não durmo,
Meu alívio é só chorar.

(Boneca = enfeite com que os tropeiros guarnecem a madrinha da tropa e é como um amuleto em favor do bom sucesso das viagens)

485

Meu amor está mal comigo,
Eu não sei qual a razão;
Se é por falta de carinho
Dou-lhe inteiro o coração.

486

Mesmo no auge da glória
Não tem glória o coração,
Porque nele sempre pesa
Alguma recordação.

487

Menina dos olhos negros,
Ardo por ti de paixão;
Menina dos olhos negros,
Queres tu meu coração?

488

Me prendam a sete chaves
Que assim mesmo hei de sair;
Não posso ficar em casa,
Não posso em casa dormir.

489

Me chamam da cor do jambo
A razão não sei porque;
O certo é que fica bambo
Todo moço que me vê.

490

Muito embora ausente viva
De quem jurei adorar,
Minha fé, minha constância
Não pode o tempo acabar.

492

Morreste silencioso,
De ninguém te despediste;
Do mundo nada quiseste,
Ao mundo nada pediste.

493

Mulatinha feiticeira
Da saia cor de melado,
Fico mal quando te vejo,
Você bota mau olhado.

494

Meu destino é imudável,
Minha desgraça, constante;
Eu choro todos os dias,
Eu suspiro a cada instante.

495

"Menina, por que razão
Eu passo, sai da janela?"
"É quando vou na cozinha
Botar fogo na panela."

496

Meu pensamento está longe,
Lá no alto, na amplidão,
Mais longe, muito mais longe
Do que sobe o gavião.

497

Meu amor fugiu de mim,
Pulado pela janela:
Ela vive bem contente,
Eu ando louco por ela.

499

Meu dinheiro tá pouquinho,
Eu com Maruca não gasto ;
Meu dinheiro tá cortado,
Dá só pra aluguel de pasto.

500

Maruca já foi-se embora
Pra a cidade da Bahia;
Pois se ela me convidasse
Na certeza também ia.



Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.

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