Quadras populares 381 a 400
Poema anônimo
381
Eu andei o mar em roda
Com uma vela branca acesa,
Em todo mar achei fundo
E no teu peito, firmeza.
382
Eu vi a rola gemer,
Me pus a considerar:
"Pois um passo tão pequeno
Já quer bem, já sabe amar?"
(Passo = pássaro)
383
Esta noite andei de ronda
como rato na parede,
Procurei, mas não achei,
O punho da tua rede.
384
Eu fui aquele que disse,
E como disse não nego;
Levo faca, levo chumbo,
Morro solto e não me entrego.
385
Eu vi teu rasto na areia,
Me pus a considerar:
"Grande mimo tem teu corpo
Que o rasto me faz chorar!"
386
386
Eu passei na tua porta
E bati na fechadura;
Eu falei, tu não falaste,
- Coração de pedra dura!
387
Eu te mando o coração,
Repara bem se é o meu;
Aceita lembranças minhas
E manda um retrato teu.
E manda um retrato teu.
388
Foge, lua envergonhada.
Retira-te lá do céu,
Que os olhos da minha amada
Têm mais brilho que o teu.
389
Fiquei vencido de todo,
Todo o sossego perdi,
Desde o dia venturoso
Em que, menina, te vi.
391
Fui na fonte beber água
Debaixo da flor de murta:
Foi só pra ver os teus olhos,
Que a sede não era muita.
393
Fui descendo pra aqui abaixo
Numa canoa furada,
Arriscando minha vida
Por uma coisinha de nada.
394
Fui descendo pra aqui abaixo
Com meu lacinho na mão.
Laçando moça bonita,
Solteira - casada, não.
395
Foge no bosque a queixada,
Foge na mata o tapir,
Só o desgraçado escravo
Não tem para onde fugir.
396
Formosinha, inconsolável,
Entre prantos eis-me aqui:
O manjar que eu possuía
Foi comido... eu não comi.
397
Fui andando prum caminho,
Santo Antonio me chamou:
Até santo chama a gente,
Que fará quem tem amor?
398
Fina lima lima o ferro
Seja duro como for;
Agrado cativa a gente,
Carinho faz ter amor.
400
Fale de mim quem quiser,
Quem tiver sua paixão;
Pois foi muito de meu gosto
Quem eu dei meu coração.
Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.