Quadras populares 361 a 380


Poema anônimo



361

Eu vou dar a despedida
Que a viola mandou dar;
Acabando deste verso
A viola há de parar.

362

Essa noite eu tive um sonho
Que meu bem tava no mato,
Todo coberto de folha,
Todo roído de rato.

363

Esse suspiro que dou
Do fundo d’alma me vem.
Não é suspiro de nada,
É saudade de meu bem.

364

Eu joguei um limão doce
Pela cachoeira abaixo;
Quanto mais o limão desce
Mais moça bonita eu acho.

365

Esta noite à meia noite
Vi cantar um gavião;
Parecia que dizia:
"Meu amor, meu coração."

366

Eu cá sou aquele ferro
Feito de aço temperado
Que tudo tenho vencido.
- Só você me tem custado.

367

Eu não tenho dó do rico
Nem do pobre que não tem.
Tenho dó do triste amante
Que dispõe a querer bem.

369

Eu vou dar a despedida
Como deu o tico-tico;
Foi voando, foi dizendo:
"Sem amor aqui não fico."

370

Eu vou dar a despedida
Como deu a saracura;
Foi saindo, foi dizendo:
"O mal de amor não tem cura."

371

Esta noite eu chorei tanto
Que apaguei o pó da rua:
Quem chora por seu amor
Não é vergonha nenhuma.

373

Eu sou aquele que diz,
Depois de dizer não nego:
Amor falso neste mundo
É cousa que eu arrenego.

374

Esses versos vão lhe ver,
Vão também lhe visitar;
Eu por não poder ir lá
Mandei-os em meu lugar.

370

Eu queixo, você se queixa,
Não sei qual terá razão:
Você queixa de meus erros,
Eu da sua ingratidão.

376

Eu moro dentro da lima
Entre a casca e o bagaço;
Deixar de um amor por outro
É coisa que eu não faço.

377

Eu tenho razão forçosa
De ter ciúmes de ti;
A minha suspeita é certa :
Ninguém me contou - eu vi.

378

Eu vou dar a despedida
Como deu o São José:
Foi saindo, foi dizendo,
"Té manhã, se Deus quiser."

379

Eu quero encontrar com a morte
Que boas coisas lhe digo;
Eu quero lhe perguntar
Que demanda tem comigo.

380.

Eu entrei de mar a dentro
Fui brigar c’os inguiles,
Tomei chumbo derretido,
Levei bala sete vez.



Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.

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