Quadras populares 281 a 300
Poema anônimo
281
Eu subo serra de fogo
Com pracata de algodão,
Desço da ponta das nuves
Com dez coriscos na mão.
(Pracata = alpercata)
282
Esta noite eu vou-me embora
Com siá Maria Candeia;
Se a noite estiver de escuro
Os óio dela me alumeia.
284
Eu entrei de mar a dentro
Pra brigar c’os tubarão.
Cabra do mar não me vence:
Que fará cabra do chão?
285
Eu era um ente na terra,
Tu eras um querubim!
Deus tirou-te dos seu anjos,
Não nasceste para mim.
286
Esse coração ingrato
Que nada pode abalar,
Petrificando meu pranto
Não tem dó do meu penar.
287
Em qualquer parte que esteja
Sem ti não posso passar;
Eu não vivo para o mundo,
Só vivo para te amar.
288
Eu no mundo nunca achei
Quem tanto amor me quisesse,
Também nunca deparei
Quem tanta pena me desse.
289
Este poeta falou,
Eu também quero falar;
O verso que ele botou
Eu também quero botar.
291
Esta vida não me serve,
Não nasci para pingueiro.
Bato bota, vou- me embora
Para a terra do dinheiro
(Pingueiro = pessoa pobre)
292
Eu vi a morte pescando
Com isca de samburá.
Quando a morte pesca peixe,
Que fome ela não terá?
296
Em cima daquele morro
Ha um pé de maçaranduba:
Quem nasceu empelicado
Vira, mexe, é corruscuba.
Ha um pé de maçaranduba:
Quem nasceu empelicado
Vira, mexe, é corruscuba.
(Corruscuba = valente)
298
Eu sou cabra perigoso
Quando pego a perigar:
Filho de cobra caiana,
Neto de cobra corá.
299
Eu sou cabra perigoso
Quando pego a perigar:
Eu canto que nem cigarra,
Eu canto ate berrentar.
300
Eu sou cabra perigoso
Quando pego a perigar:
Eu mato sem fazer sangue
E engulo sem mastigar.
Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.