Quadras populares 241 a 260


Poema anônimo



241

De teus olhos tenho medo,
Fujo deles com pavor!
Ai! não mates já tão cedo
Teu magoado trovador!

242

Dizem que as almas não morrem,
São imortais, não têm fim...
A minha faz exceção:
- Está morta dentro de mim.

243

Desabrochou de manhã,
De tarde se despediu;
Fiquei na noite sombria
Por onde ela se sumiu.

244

Debaixo da terra fria
Contra o teu rosto de dó,
Mais aumenta a minha pena
O me lembrar que estás só.

246

De tudo eu quero deixar,
Só de amor eu não queria:
Não esqueço o seu semblante
Toda a hora, todo o dia.

247

Dom Pedro já se embarcou
No vapor americano.
Eu vi o barco de guerra
Bandeira republicana.

(Alusão à partida de D. Pedro II para o exílio)

248

Dizem que o pito alivia
As mágoas do coração:
Eu pito, pito e repito
- As mágoas nunca se vão.

(Pito = cachimbo; Pitar = fumar cachimbo)

249

Da boca faço tinteiro,
Da língua, pena aparada,
Dos dentes, letra miúda,
Dos olhos, carta fechada.

250

Dentro do teu coração
Tenho metido este meu:
Quando o teu coração bate,
Bate o meu dentro do teu.

251

Da desgraça a lei fatal
Me privará de te ver,
Mas não d’alma há de tirar-me
A glória de te querer.

252

Dentro de meu peito tenho
Dois engenhos de moer:
Um anda, outro desanda,
Assim faz quem quer viver.

253

Dentro de meu peito tenho
Duas espinhas de peixe:
Uma me diz que te ame,
Outra me diz que te deixe.

264

Dentro de meu peito tenho
Uma tola opinião:
Não corro sem ver de que,
De susto não morro, não.

256

Deito na cama, não durmo,
Meu semblante fica em chama,
Por caçar e não achar-te
No canto de minha cama.

257

Dentro de meu peito tenho
Duas cartas por abrir:
Uma de saber amar,
Outra de saber sentir.

259

Deixe a lua lumiar,
Deixe o sol resplandecer;
Mas eu deixar de te amar
Isso não posso fazer.

260

De teus braços para dentro
Não admita mais ninguém;
Espere, tenha paciência,
Que eu mesmo serei seu bem.



Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.

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