Quadras populares 21 a 40
Poema anônimo
21
Andamos de porta em porta
De todos os moradores
Pra festejar o Divino,
Cobri-lo todo de flores.
22
A vida do preto escravo
É um pendão de penar:
Trabalhando todo o dia
Sem noite pra descansar.
24
A minha gatinha parda
Em Janeiro me fugiu.
Quem achou minha gatinha?
Você sabe? Você viu?
25
Em Janeiro me fugiu.
Quem achou minha gatinha?
Você sabe? Você viu?
25
Atirei um limão verde
Por cima da sacristia;
Deu no padre, deu na missa,
Deu na moça que eu queria.
26
Agora eu vou dividir
As frutas do meu sertão:
Tem manga, ingá, graviola,
Condessa, lima e limão.
28
Arruda também se muda
Do sertão para o deserto,
Também se ama de longe
Quem não pode amar de perto.
29
A serva ingrata querendo
Mais minha dor aumentar,
Sorrindo bebe meu pranto,
Não tem dó do meu penar.
30
Antes eu nunca te visse
Nem te tomasse amizade,
Para agora me deixares
No rigor de uma saudade.
31
Ao ver-me continuamente
De pranto o rosto banhar,
Além de aumentar o pranto
Não tem dó do meu penar.
32
A árvore do amor se planta
No centro do coração;
Só a pode derrubar
O golpe da ingratidão.
33
Alma pura e rosto d’anjo
Nela juntos encontrei;
Como pôde ser ingrata
Eu confesso que não sei.
34
Amei-te enquanto me amaste,
Te quis enquanto quiseste;
Deixei-te quando deixaste-me,
- Fiz o que tu me fizeste.
35
Adeus, campina tão verde,
Onde meu bem assentou;
Campina, fala a verdade:
Com quem meu bem conversou?
36
Amor, abaixo de Deus,
Tem sangue, tem divindade;
Deus domina corpo e alma,
O amor domina a vontade.
37
A viola chora a prima,
A prima chora o bordão.
É como filho sem pai,
Sem parente nem irmão.
38
Arreei o meu cavalo
E agora vou viajá;
Vou buscá minha boneca,
Não posso mais esperá.
(boneca: enfeite utilizado pelos tropeiros)
39
Ao amor não faço pouco,
Pois ele preço não tem:
O prêmio de amor se paga
Amando e querendo bem.
40
Ai, senhora do meu peito,
Triste cousa é querer bem:
Quanto mais a gente sofre
Mais amor a gente tem.
Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.