Quadras populares 181 a 200


Poema anônimo



181

Como tu não há na terra
Tão linda, tão bela flor ;
Menina dos olhos negros,
Queres tu o meu amor?

182

Como as aves que vagueiam
No seio da noite escura,
Assim serão meus suspiros
Sobre a tua sepultura.

183

Como se ama a Deus no céu,
Te adorou minh'alma pura;
Mas tu desprezas, ingrata,
Meus extremos de ternura.

186

Chora, violinha, chora,
Chora sem consolação;
Quando tu, madeira, choras,
Que fará quem tem paixão?

187

Cachacinha é moça branca
Que nasceu de pai trigueiro;
Quem toma amores por ela
Não pode ajuntar dinheiro.

188

Cigarrinho de papel
Fumo verde não fumega:
Onde tem moça bonita
Meu coração não sossega.

189

Cada vez que me recordo
Que comigo ninguém pode,
Tenho medo de mim mesmo,
De fazer uma desorde.

190

Caboclo bão no riscado
Não arreceia o destroço:
Eu sou um cabra sarado
Criado com chumbo grosso.

191

Casa nova de monjolo,
Engenho de sassafrás:
Quem não se embeiçar por mim
Chegue, chegue para trás.

192

Como pode o peixe vivo
Viver fora da água fria?
Como poderei viver
Sem a tua companhia?

193

Cartinha, voa nos ares,
Te livra de algum perigo;
Vai falar àquela ingrata
Que não quer falar comigo.

194

Cá por dentro tem um bicho
Que me rói e vai roendo ;
Quanto mais afago o bicho
Mais o bicho vai comendo.

195

Com pena peguei na pena
Com pena de te escrever ;
A pena caiu no chão
Com pena de não te ver.

196

Coração que bate, bate,
Quando não puder, descansa;
O alivio de quem ama
É viver com esperança.

197

Chove, chuva miudinha,
Na copa de meu chapéu:
Padre Nosso de mulher
Não leva homem pro céu.

198

Cachaça é filha da cana,
Neta do canavial,
Desce pelo peito abaixo
Procurando o seu lugar.

199

Cravo roxo e sentimento,
Inda mais sentido estou,
Pois não cabe no meu peito
Amar a quem me deixou.

200

Carta, vai onde eu te mando,
Carta, não erres a porta;
Carta, põe-te de joelhos
E espera pela resposta.



Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.


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