Plumas e espinhos
Pela minha existência vou colhendo
aqui e ali, indiferentemente,
males e bens; se alguns vou merecendo,
doutros - dói-me dizer - sou inocente.
Palavras de carinho - bem presente -
fazem-me a dor em pouco ir esquecendo;
ingratidões, invejas - indulgente
sofro-as e esqueço-as no meu dividendo...
Das esperanças, ilusões, algumas
deixam-me n'alma a sensação das plumas,
como se houvesse em mim flores e ninhos.
E vou seguindo a rota da existência:
tendo à fronte do Sonho a transcendência
e os pés sangrando em ríspidos espinhos.
Fonte: "Plumas e espinhos", Casa Valente, 1926.
Originalmente publicado em: "Plumas e espinhos", Casa Valente, 1926.