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Poema de Leonor Posada



Não importa que estejas apartado
de mim;
não importa
que eu te sinta distante, longe assim;
nos meus momentos
de ternura
minh'alma te procura;
célere o espaço corta
com as grandes asas dos meus pensamentos,
luminosa, brilhante,
tão cheia de ansiedade,
que se diria o friso coruscante
do raio, pela altura,
num prenúncio de luz ou tempestade...

Meu anseio
faz-me crescer no seio
o desejo incontido de tocar-te,
e então
- fumaça ou cerração -
aroma ou devaneio,
eu toda me distendo,
e os espaços enchendo
chego a ti, porque chego a toda a parte...

Volatilizada assim,
por onde adejo,
sobre o mar ou jardim,
montanhas e areais -
levo a sede febrenta do meu beijo
que só num outro beijo se compraz...

E sou sussurro d'água e sou perfume;
ardência do deserto e sombra amiga;
- brisa que leva os sons de uma cantiga,
nuvem que anseios e sonhar resume...

E chego a ti... e envolvo-te em ternura;
de onde estou a onde estás marco a minha ventura
por uma faixa luminosa e estranha
que meus desejos, protetora, banha...
E assim, quando sentires
envolver-te fragrância comovida
ou doce onda nivosa,
- olha o céu: estou nele convertida
na curva deliciosa,
sete colorida
do arco-íris,
ligando
o teu viver ao meu viver,
e sublimando
toda a razão de ser
da minha vida...



Fonte: "Plumas e espinhos", Casa Valente, 1926.
Originalmente publicado em: "Plumas e espinhos", Casa Valente, 1926.

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