174. Ó meu Allah


Poema de crroma



Allah, ó meu Allah,
o carnaval ardia como cal,
o asfalto amolecia.
Pele nenhuma escapava
              - só um esguicho de mangueira
              aliviava a histórica temperatura!

Sol a pino, uma fornalha
distribuindo tonturas.
Por misericórdia, uma pausa!,
a se aproveitar a sombra da marquise.
              Ai! que saudade
             do íntimo refresco de uma gruta.

Mas não se podia parar o bloco
batuqueiro pela rua
em horas tão viperinas.
Árvores faltavam.
              Copinhos d'água
              superfaturava a prefeitura.

Queriam alegria
extravagante de quente.
Pulavam, Allah, ó meu Allah,
tão delirantes,
              carnaval que não durará
              eternamente...




(Da Folha de São Paulo: 'Fim do petróleo ou Carnaval em agosto')