O prazer

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Poema de Silva Alvarenga



Sobre o feno recostado,
Descansado afino a lira
Que respira com ternura
Na doçura do prazer.

Amo a simples natureza:
Busquem outros a vaidade
Nos tumultos da cidade,
Na riqueza e no poder;
Desse pélago furioso
Não me assustam os perigos,
Nem dos ventos inimigos
O raivoso combater.

Sobre o feno recostado,
Descansado afino a lira
Que respira com ternura
Na doçura do prazer.

Pouca terra cultivada
Me agradece com seus frutos;
Mas os olhos tenho enxutos,
Quanto agrada assim viver!
O meu peito só deseja
Doce paz neste retiro;
Por delicias não suspiro,
Onde a inveja faz tremer.

Sobre o feno recostado,
Descansado afino a lira
Que respira com ternura
Na doçura do prazer.

Pelas sombras venturosas
De fecundos arvoredos
Ouve Glaura os meus segredos
Quando rosas vai colher.
Já o amor com ferro duro
Não me assalta nem me ofende;
Já suave o fogo acende,
E mais puro o sinto arder.

Sobre o feno recostado,
Descansado afino a lira
Que respira com ternura
Na doçura do prazer.

Entre as graças e os amores
Canto o sol e a primavera
Que risonha vem da esfera
Tudo em flores converter.
A inocência me acompanha;
Oh que bem! oh que tesouro!
Vejo alegre os dias de ouro
Na montanha renascer.

Sobre o feno recostado,
Descansado afino a lira
Que respira com ternura
Na doçura do prazer.



Fonte: "Obras Poéticas", B. L. Irmãos Garnier, 1864.
Originalmente publicado em: "Glaura: poemas eróticos", Officina Nunesiana, 1799.

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