Consolo amargo
Poema de Cruz e Souza
Mortos e mortos, tudo vai passando,
Tudo pelos abismos se sumindo...
Enquanto sobre a Terra ficam rindo
Uns, e já outros, pálidos, chorando...
Todos vão trêmulos finalizando,
Para os gelados túmulos partindo,
Descendo ao tremedal eterno, infindo,
Mortos e mortos num sinistro bando.
Tudo passa espectral e doloroso,
Pulverulentamente nebuloso
Corno num sonho, num falai letargo...
Mas a quem chora os mortos, entretanto,
O esquecimento vem e enxuga o pranto,
E é esse apenas o consolo amargo!
Fonte: "Últimos sonetos", Aillaud & Cia , 1905.
Originalmente publicado em: "Últimos sonetos", Aillaud & Cia , 1905.