A alma e a geringonça

Imagem de Mário Quintana

Poema de Mario Quintana



A Alma e a Geringonça, aí é que está o problema...
Seremos acaso uns autômatos cuja complexidade de reações nos faz acreditar num ilusório livre-arbítrio?
Essa coisa dos torpedos auto-dirigíveis dá para desconfiar um bocado...
Acontece que somos muito mais complicados do que eles - eis tudo.
Mas este jogo de pensamentos em que nos comprazemos é tão limitado como um jogo de palavras.
Senão, já teríamos descoberto e resolvido tudo, em tantos e tantos séculos de funcionamento.
É verdade que temos tido jogadores hábeis como Platão, para apenas citar um craque da Antiguidade.  Mas se nem Platão, muito menos eu e tu, leitor...
Nós só podemos ir movendo as peças, sem esquecer que, embora as partidas pareçam variar ao infinito, o movimento de cada peça é único e as regras do jogo são imutáveis, embora convencionais, como as de qualquer jogo.
E, se fôssemos infringir as regras, seria impossível jogarmos.
Continuemos, pois, a brincar com a máxima seriedade. Porque jogo é jogo.



Fonte: "Poesia Completa", Editora Nova Aguilar, 2006.
Originalmente publicado em: "Caderno H", 1973.

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