152. Melgaço


Poema de crroma



Esquentou a água do rio.
Ao meio-dia não se podia
lavar as mãos
nem se lavavam vasilhas.

Melgaço das casas de palafita
do arquipélago Marajó.
Melgaço, cercada de floresta,
alastrava extremo calor.

A subsistência de roçados
secou como os lagos os poços.
Nada se tinha a pescar.
Escasseou a caça do mato.

O ar se ocupou de fumaça
em que bichos sufocavam.
A onça arriscava-se a tiros
para beber na beira do rio.

Melgaço sem hospital,
só embarcação ambulância.
Os habitantes expostos
ao escaldante meio-dia

          - não se podia lavar as mãos