127. Sobras ou restos
Poema de crroma
Podem sobrar fotografias
depois que a enchente passar,
depois que o fogo vier.
Ou nada sobra.
Coisa sólida queima.
O que se construiu alaga em lama.
O arredor desaparece, sem esquinas nem lugares,
no apagar material do cotidiano.
Perde-se o que não é possível reaver.
O próprio Ser, cindido,
perde uma parte de si mesmo,
a vida inesperadamente tragada,
o passado diluído.
Depois que a enchente passar,
depois que o fogo vier,
resta menos
da pessoa que se era.
Ou nada resta.
(Da Folha de São Paulo: 'Os desastres climáticos e o apagamento do passado')