A travessia do Atlântico
Poema de João Cabral de Melo Neto
A dez mil metros de altura
vai o homem no seu avião.
Sabe que vai mas não sabe
se vai de avião ou caixão.
Não tem medo. É como um trilho
o tubo vertiginoso,
o projétil disparado
que o leva dentro do bojo.
Nada há em volta que marque
que vai, que vai num veículo;
não sente percorrer nada,
vai, tempo e espaço abolidos.
É natural que não saiba
se vai de avião ou caixão:
livre do tempo e do espaço,
vai no imóvel que não dão.
Fonte: "A educação pela pedra e depois", Editora Nova Fronteira, 1997.
Originalmente publicado em: "Agrestes", 1985.
Fonte: "A educação pela pedra e depois", Editora Nova Fronteira, 1997.
Originalmente publicado em: "Agrestes", 1985.