À sombra das árvores
Poema de Zalina Rolim
Por entre os densos verdores
Destas árvores antigas,
Rescendem cheirosas flores,
Soam trêmulas cantigas.
Pássaros saltam ligeiros,
Ariscos, leves, sutis;
E o orvalho em finos chuveiros
Reluz no verde matiz.
No seio fofo dos ninhos
Pipilam vozes trementes,
Balbucio de passarinhos,
Gárrulos sons inocentes.
Grinaldas de trepadeiras,
Corolas de rubra cor,
Abrem-se lindas, faceiras,
Do dia ao brando calor.
Tremem as canas eretas
Do bambual verdejante;
E das campinas quietas
Sobe um odor penetrante.
Pacífico ribeirinho
No leve curso veloz
Corta e recorta o caminho
Vibrando a liquida voz.
Pios, rumores de insetos
Entre moitas escondidos...
Secos atritos de fetos,
Finos, leves estalidos...
Nas espátulas cortantes
Do virente capinzal,
Em queixas dilacerantes
Soluça o vento hibernal.
A luz se espalha e fulgura
No azul imáculo e fino...
Vibra no espaço a doçura
De uns leves toques de sino.
O vento frio rasgando
As gazes da cerração
Leva girando, girando,
As folhas secas do chão.
Flocos ligeiros, delgados,
Tremulamente nos ares
Se elevam desenrolados
Do fumo tênue dos lares.
E no relvado sedoso
- Amplo, virente lençol -
Brilha num véu luminoso
Toda a alegria do sol...
Fonte: "O Coração", Tipografia Hennies & Winiger, 1893.
Originalmente publicado em: "O Coração", Tipografia Hennies & Winiger, 1893.