Rústica
Poema de Zalina Rolim
É o fim da tarde. No vapor dourado
Que ourela e franja as nuvens do ocidente,
Todo se envolve o laranjal. Pesado
Chia um carro de bois, morosamente.
Súbito, range a rústica porteira
Num som ríspido, escancara, se abrindo;
Voam no espaço nuvens de poeira
E o gado investe para o curral, mugindo . . .
Crianças brincam lépidas, saltando,
Numa alegria trefega e radiosa;
E num concerto misterioso e brando
Soa da noite a voz misteriosa...
Frêmito de asas trêmulo e macio
Pelo arvoredo, vagos sons, rumores
De entre-chocadas folhas... e erradio,
Por toda a parte, o hálito das flores.
Em ranchos desce a gente da lavoura,
De enxada ao ombro, contornando a serra;
E, lânguida, no céu, formosa e loura.
Vênus o olhar pacifico descerra.
Fonte: "O Coração", Tipografia Hennies & Winiger, 1893.
Originalmente publicado em: "O Coração", Tipografia Hennies & Winiger, 1893.