Poeira dos dias
Poema de Henriqueta Lisboa
A ilusão é um pretexto para a vida.
E, dentre todas as verdades, esta
é a mais inútil para o coração.
A alma da gente sempre anda esquecida
de que, das ilusões passadas, resta
somente o estigma da desilusão.
Tudo os dias compensam... No entanto,
quando o teu sonho emerge da penumbra,
pensas que viverás por ele apenas.
Chegas a imaginar, tonto de encanto,
que, a não ser a ilusão que te deslumbra,
nada existe que valha as tuas penas.
Depois que a perdes - porque que cedo ou tarde
tudo se perde, realizado ou não -
talvez sorrias de íntimo prazer.
Porque no fundo - coração covarde -
nada em ti se transforma, que a ilusão,
a que te importa, apenas, é viver.
Fonte: "Enternecimento", Paulo Pongetti Editora, 1929.
Originalmente publicado em: "Enternecimento", Paulo Pongetti Editora, 1929.