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Poema de Hilda Hilst



Quem é que ousa cantar, senhor,
Um ódio dito formoso?

Que raro fosso há de ser
O escuro melodioso

Esse tão meu, de sementes
De verdes dentro de um poço?

Que largueza incongruente
Nos versos, sem parecer

Que quem trova
Se fez demente.

Que altas novas
Este cantar de mulher:

Um ódio de esclarecer
Desejo que não se mostra.

Um ódio-fêmea, senhor,
É bem o fosso onde cresce a rosa:
A rara. De ódio formoso.



Fonte: "Da Poesia", Editora Companhia das Letras, 2017.
Originalmente publicado em: "Cantares de Perda e Predileção", Massao Ohno Editor, 1983.

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