O amante saudoso
Poema de Silva Alvarenga
Linda Glaura, os arvoredos
E os rochedos que já viste,
Tudo é triste e tudo sente
Meu ardente suspirar.
Quando os risos e os amores
Aparecem nos teus olhos,
Até de ásperos abrolhos
Vejo flores rebentar.
Mas se deixas este prado,
Ai'de mim! cruéis pesares!
Sinto escuro o céu e os ares
E enlutado o bosque e o mar.
Linda Glaura, os arvoredos
E os rochedos que já viste,
Tudo é triste e tudo sente
Meu ardente suspirar.
Não te alegra a curva praia
Quando o sol já se retira?
Não te move o som da lira
Que desmaia de chorar?
De que nasce o teu desgosto?
Ah! permite que te vejam
Estes campos que desejam
O teu rosto enamorar.
Linda Glaura, os arvoredos
E os rochedos que já viste,
Tudo é triste e tudo sente
Meu ardente suspirar.
No declive deste monte,
Murmurando à sombra fria,
Da soberba penedia
Clara fonte desce ao mar.
Nessa gruta deleitosa
Doce zéfiro te espera,
E a suave primavera
Cuidadosa em te agradar.
Linda Glaura, os arvoredos
E os rochedos que já viste,
Tudo é triste e tudo sente
Meu ardente suspirar.
Destes vales foge a calma
No rigor do fero estio:
Torna, ó bela, torna ao rio,
Vem minha alma consolar.
E eu verei, oh que ventura!
Neste plácido remanso
Os prazeres e o descanço
E a ternura triunfar.
Linda Glaura, os arvoredos
E os rochedos que já viste,
Tudo é triste c tudo sente
Meu ardente suspirar.
Fonte: "Obras Poéticas", B. L. Irmãos Garnier, 1864.
Originalmente publicado em: "Glaura: poemas eróticos", Officina Nunesiana, 1799.