O amante infeliz
Poema de Silva Alvarenga
Glaura! Glaura! Não respondes?
E te escondes nestas brenhas?
Dou às penhas meu lamento;
Ó tormento sem igual!
Ao amor cruel e esquivo
Entreguei minha esperança
Que me pinta na lembrança
Mais ativo o fero mal.
Não verás em peito amante
Coração de mais ternura;
Nem que guarde fé mais pura,
Mais constante e mais leal.
Glaura! Glaura! Não respondes?
E te escondes nestas brenhas?
Dou às penhas meu lamento;
Ó tormento sem igual!
Se não vens, porque te chamo;
Aqui deixo junto ao rio
Estas pérolas num fio,
Este ramo de coral.
Entre a murta que se enlaça
Com as flores mais mimosas
Acharás purpúreas rosas
Numa taça de cristal.
Glaura! Glaura! Não respondes?
E te escondes nestas brenhas?
Dou às penhas meu lamento;
Ó tormento sem igual!
Vejo turvo o claro dia;
Sombra feia me acompanha;
Não encontro na montanha
A alegria natural.
Tanto a mágoa me importuna
Que o viver já me aborrece;
Para um triste, que padece,
É fortuna o ser mortal.
Glaura! Glaura! Não respondes?
E te escondes nestas brenhas?
Dou às penhas meu lamento;
Ó tormento sem igual!
Onde estou? troveja... o raio...
Foge a luz... os arvoredos...
Abalados os rochedos...
Já desmaio... ó dor fatal.
Ninfa ingrata, esta vitória
Alcançarão teus retiros;
Leva os últimos suspiros
Por memória triunfal.
Glaura! Glaura! Não respondes?
E te escondes nestas brenhas?
Dou às penhas meu lamento;
Ó tormento sem igual!
Fonte: "Obras Poéticas", B. L. Irmãos Garnier, 1864.
Originalmente publicado em: "Glaura: poemas eróticos", Officina Nunesiana, 1799.