Os semeadores

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Poema de Machado de Assis



Vós os que colheis, por esses campos largos,
       O doce fruto e a flor,
Acaso esquecereis os ásperos e amargos
       Tempos de semeador?

Rude era o chão; agreste e longo aquele dia;
       Contudo, esses heróis
Souberam resistir na afanosa porfia
       Aos temporais e aos sóis.

Poucos; mas a vontade os poucos multiplica,
       E a fé, as orações
Fizeram transformar a terra pobre em rica
       E os centos em milhões.

Nem somente o labor, mas o perigo, a fome,
       O frio, a descalcez,
O morrer cada dia uma morte sem nome,
       O morre-la, talvez,

Entre bárbaras mãos, como se fora crime,
       Como se fora réu
Quem lhe ensinara aquela ação bela e sublime
       De as levantar ao céu!

Ó Paulos do Sertão! Que dia e que batalha!
       Venceste-la; e podeis
Entre as dobras dormir da secular mortalha,
       Vivereis, vivereis.



Fonte: "Poesias Completas", Livraria Garnier Irmãos, 1902.
Originalmente publicado em: "Americanas", Livraria Garnier Irmãos, 1875.


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