Marcha final (de Serras e pântanos)
Poema de Jacinta Passos
Cavalos lentos
lerdos suados
olhos mortiços
quase apagados.
Homens de ferro
curvos cansados.
Os pés afundam
no atoleiro
caminho de visgo,
o derradeiro.
(Como resina
de cajueiro)
Bois também servem
de montaria
os cascos grossos
na lama fria.
Onde acampar
no fim do dia?
Ó Mato Grosso
rio Araguaia!
copas de árvores
de samambaia.
Que é de o pouso antes
que a noite caia?
Cimo dos montes
fogo e descanso
aqui das tropas
breve remanso.
Que é de as caças,
galos e gansos?
Carne e palmito
raro ou nenhum
nem mais a sopa
de jerimum.
E a rapadura?
Ai jatium!
Ai muriçoca!
que longe estás
ó Carolina,
a de Goiás
do Tocantins,
princesa. E mais
as filarmônicas,
flauta e pistom
bombos, dobrados,
longe teu som.
Adeus palanque
flauta e pistom.
As vestes rotas,
malas e linhos,
que é de os mascates
nos seus burrinhos?
Que é de os ciganos?
Ninguém. Sozinhos.
Neste ano Vinte
e Sete embarca,
Rio Araguaia,
Porto da Barca.
Em Fevereiro
já desembarca
na outra margem
em Capin Blanco,
já é Bolívia,
último arranco.
(Armas depostas
em Capin Blanco
Depois La Gaiba
exílio teu)
Coluna, quem
quem te venceu?
Ninguém, ó filha
do povo meu.
Fonte: "Jacinta Passos, coração militante", Editora EDUFBA, 2010.
Originalmente publicado em: "A Coluna", Editora A. Coelho Branco, 1957.