A luz do sol

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Poema de Silva Alvarenga



Luz do sol, quanto és formosa
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria
Principia a suspirar.

Quando puro se derrama
Vivo ardor no ameno prado,
Pelas brenhas foge o gado
Verde rama a procurar.
E se o astro luminoso
Deixa tudo em sombra fusca
Triste então o abrigo busca
Vagaroso a ruminar.

Luz do sol, quanto és formosa
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria
Principia a suspirar.

Lavrador que, aflito e velho,
Sobre o campo endurecido
Ver deseja submergido
O vermelho sol no mar.
E se o úmido negrume
Tolda os céus e os vales banha,
Fita os olhos na montanha
Onde o lume vê raiar.

Luz do sol, quanto és formosa
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria
Principia a suspirar.

Pela tarde mais ardente
O pastor estima as grutas
Onde penhas nunca enxutas
Vê contente gotejar.
E se as trevas no horizonte
Desenrolam negro manto,
Com saudoso e flébil canto
Faz o monte ressonar.

Luz do sol, quanto és formosa
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria
Principia a suspirar.

Assim Glaura, que inflamada
Perseguiu aves ligeiras,
Quer à sombra das mangueiras
Descansada respirar.
Entre risos, entre amores,
Se lhe falta o dia, chora,
E vem cedo a ver a aurora
Sobre as flores orvalhar.

Luz do sol, como és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.


Fonte: "Obras Poéticas", B. L. Irmãos Garnier, 1864.
Originalmente publicado em: "Glaura: poemas eróticos", Officina Nunesiana, 1799.


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