Pressentimento

Imagem Henriqueta Lisboa

Poema de Henriqueta Lisboa



Há qualquer coisa neste olhar que foge ao meu.
Há qualquer coisa neste olhar que ao meu se esfuma.
Há qualquer coisa em ti que se perdeu!

Curva de estrada muito ao longe à hora da bruma...
A última sombra desapareceu...
Vai para o oceano de onde veio a onda de espuma...

Rondam ciprestes pela noite, uivando em coro.
Superstição de mãos cruzadas. Quem morreu?
Pios de mocho na distância... Mau agouro...

Montes de ruínas.... Pensamentos de sol-pôr...
Mas que desgraça foi que sucedeu?
Tuas olheiras são coroas de defunto...

Há qualquer coisa... E no entretanto, ó minha dor,
não te pergunto coisa alguma, não pergunto,
por compaixão e por amor do nosso amor!



Fonte: "Enternecimento", Paulo Pongetti Editora, 1929.
Originalmente publicado em: "Enternecimento", Paulo Pongetti Editora, 1929.

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