À Elvira (Lamartine)
Poema de Machado de Assis
Quando, contigo a sós, as mãos unidas,
Tu, pensativa e muda, e eu, namorado,
Às volúpias do amor a alma entregando,
Deixo correr as horas fugidias;
Ou quando às solidões de umbrosa selva
Comigo te arrebato; ou quando escuto
- Tão só eu - teus terníssimos suspiros
E de meus lábios solto
Eternas juras de constância eterna;
Ou quando, enfim, tua adorada fronte
Nos meus joelhos trêmulos descansa
E eu suspendo meus olhos em teus olhos
Como às folhas da rosa ávida abelha;
Ai, quanta vez então dentro em meu peito
Vago terror penetra, como um raio!
Empalideço, tremo;
E no seio da glória em que me exalto
Lágrimas verto que a minha alma assombram!
Tu, carinhosa e trêmula,
Nos teus braços me cinges - e assustada,
Interrogando em vão, comigo choras!
"Que dor secreta o coração te oprime?"
Dizes tu. "Vem, confia os teus pesares...
Fala! eu abrandarei as penas tuas!
Fala! eu consolarei tua alma aflita!"
Vida do meu viver, não me interrogues!
Quando enlaçado nos teus níveos braços
A confissão de amor te ouço e levanto
Lânguidos olhos para ver teu rosto,
Mais ditoso mortal o céu não cobre!
Se eu tremo, é porque nessas esquecidas,
Afortunadas horas
Não sei que voz do enleio me desperta
E me persegue e lembra
Que a ventura com o tempo se esvaece
E o nosso amor é facho que se extingue!
De um lance, espavorida,
Minha alma voa às sombras do futuro,
E eu penso então: "Ventura que se acaba
Um sonho vale apenas."
Fonte: "Poesias Completas", Livraria Garnier Irmãos, 1902.
Originalmente publicado em: "Falenas", Livraria Garnier Irmãos, 1870.