Canção do primeiro ano
Poema de Mario Quintana
Anjos varriam morcegos
Até jogá-los no mar.
Outros pintavam de azul,
De azul e de verde-mar
Vassouras de feiticeiras,
Desbotadas tabuletas,
Velhos letreiros de bar.
Era uma carta amorosa?
Ou uma rosa que abrira?
Mas a mão correra ansiosa
- Ó sinos, mais devagar!
À janela azul e rosa,
Abrindo-a de par em par.
O banho de luz, tão puro,
Na paisagem familiar:
Meu chão, meu poste, meu muro,
Meu telhado e a minha nuvem,
Tudo bem no seu lugar.
E os sinos dançam no ar.
De casa a casa, os beirais,
- Para lá e para cá -
Trocam recados de asas,
Riscando sustos no ar.
Silêncios. Sinos. Apelos. Sinos.
E sinos. Sinos. E sinos. Sinos.
Pregoeiros. Sinos. Risadas. Sinos.
E levada pelos sinos,
Toda ventando de sinos,
Dança a cidade no ar!
Fonte: "Poesia Completa", Editora Nova Aguilar, 2006.
Originalmente publicado em: "Canções", 1946.