77. O elefante


Poema de crroma



Fabricamos a extinção
de elefantes africanos.
Por irrefreável arroubo
consumimos os recursos
pela natureza dispostos.
Que importam as grandes
orelhas, a inteligência,
as faceiras trombas,
o feitio sociável, os olhos
tão fluidos, o ser memorável?
Pobre paquiderme de
populações que expiram.
Sim, massa imponente,
porém reduzida ao leitoso
marfim de suas presas,
prosaico alvo de caça.
Ou então condenado
ao impossível exílio
do sítio em que habita.
Vão-se os elefantes,
marchando sem engenho
ao destino forçoso
de nossas industriais sanhas,
destino deles e de outras
desastradas espécies,
pois o convívio conosco
constitui um desastre.
A vida ao mínimo esmagada,
e apesar de se ver
- reproduzida em milhares
de telas portáteis -
o tocante decesso
conjunto de elefantes,
não se quer de fato
divergir a trajetória.
Disfarça-se com protestos
nunca fatigados,
com inócuas campanhas
para os salvar de nós mesmos,
desse íntimo conteúdo
do qual adiamos o encontro,
que o desmontar carecemos
para um veraz recomeço.




(Da Reuters via Folha de São Paulo: 'População de elefantes africanos tem queda drástica ao longo de meio século')


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