Lira IX (parte III)
Poema de Thomaz Antônio Gonzaga
Como correm brandamente
Da noite as horas sombrias!
Que manso murmúrio fazem
D'este rio as águas frias!
A negra tristeza
Que o sítio produz
Minha alma conduz
A mil agonias!
As opacas, grossas nuvens
Que do Sul correndo vão,
A furto deixam raiar
Da lua o frouxo clarão.
A pálida luz
Que a medo aparece,
Ah! quanto entristece
Esta solidão.
Notívagas aves giram
Neste lugar pavoroso;
E quanto é melancólico
O seu grasnido horroroso!
Seu fúnebre canto
Cheio d'aflição
Faz meu coração
Mais triste e saudoso.
Em busca de infeliz presa,
Uns com os outros topando,
Andam carnívoros lobos
Pelos montes ululando.
Uns com os outros topando,
Andam carnívoros lobos
Pelos montes ululando.
E se acaso passam
Por estes arbustos
Mil gélidos sustos
Me estão motivando.
Enfim, quanto vejo e sinto
Nesta triste solidão,
Tudo está reproduzindo
A mais hórrida aflição.
Nesta triste solidão,
Tudo está reproduzindo
A mais hórrida aflição.
Fúnebres horrores,
Que causam espanto,
Meu lúgubre pranto
Promovendo estão.
Mas se Marília agora
Neste horror aparecia.
Depressa a noite mudava
Mais brilhante do que o dia.
Seus olhos formosos
Que mil prisões tecem,
Aonde aparecem
Tudo é alegria
Fonte: "Marília de Dirceu", Irmãos Garnier Editores, 1862.
Originalmente publicado em: "Marília de Dirceu", 1792.