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Poema de Fernando Pessoa



As lentas nuvens fazem sono.
O céu azul faz bom dormir.
Boio, num íntimo abandono,
À tona de me não sentir.

E é suave, como um correr de água,
O sentir que não sou alguém,
Não sou capaz de peso ou mágoa.
Minha alma é aquilo que não tem.

Que bom, à margem do ribeiro,
Saber que é ele que vai indo...
E só em sono eu vou primeiro,
E só em sono eu vou seguindo.



Fonte: 'Obra Poética', décima edição, Editora Nova Fronteira, 2001.

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