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Poema de Ana Cristina César



Tudo que eu nunca te disse, dentro destas margens.
A curriola consolava.
O assunto era sempre outro.
Os espiões não informavam direito.
A intimidade era teatro.
O tom de voz subtraía um número.
As cartas, quando chegavam, certos silêncios, nunca mais.
Excesso de atenção varrido para baixo do capacho.
Risco a lápis sobre o débito. Vermelho.
Agora chega. Hoje, aqui, de repente, de propósito, de batom,
leio: “Contas novas”, em letras plásticas.
Três variações de assinatura.
Três dias para o livro de cheques desta agência.
Demito o agente e o atravessador.
Felicidade se chama meios de transporte.
Saída do cinema hipnótico. 
Ascensão e queda e ascensão e queda
deste império mas vou abrir um lacre.
Antes disso, um sus: pousa aqui. Ouve: “Como em turvas águas de enchente...”
É lá fora. Espera.



Fonte: "Poética", editora Companhia das Letras, 2013.
Originalmente publicado em: "A Teus Pés", editora Brasiliense, 1982.

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