32. Os três santos


Poema de crroma



O canto de Santo Antônio,
de São Jirau, a reza,
homilia de São Belo Monte
degradando a natureza.

Ora vivas ao governo,
empreiteiras, engenheiros,
implantaram os três santos,
perdemos nós o dinheiro.

Construíram-se hidrelétricas
planejadas em quimeras.
Foram ao rio buscar água,
no estio param as turbinas.

Foi planejamento baldio:
ignoraram o clima.
A água dos rios míngua
pelo seco mais assíduo.

Santo Antônio seca a boca,
São Jirau seca também,
pior São Belo Monte,
seca tudo, diz amém.

Desde que estão de pé,
energia produzem pouca.
Três santos improdutivos,
a degradar a Amazônia.

Se falta eletricidade,
sobrou derrubada de árvore,
gente do lugar deslocada,
reduzida diversidade.

Ó meu senhor Santo Antônio,
São Jirau, São Belo Monte,
agora fazer o quê? A situação
vai piorar bastante.

Muda o oceano, a atmosfera,
influência da ação humana.
Cairá o fluxo dos rios,
a estiagem se alonga.

Peçam logo, oh meus santos!,
uma medida de urgência.
A prosseguir nesse rumo,
vós três ireis à falência.

E ficarão para trás
descomunais monumentos,
em concreto e incoerência,
a um inútil intento.




(Da Folha de São Paulo: 'Seca severa faz grandes hidrelétricas da amazônia operarem a menos de 10% da capacidade')