Sequência
Poema de Cora Coralina
I
Dormir, acordar.
Lutar; lutar sempre,
sempre assim, até o fim.
II
A rotina da vida
vai passando,
vai rolando,
empurrando sempre,
sempre para a frente.
III
Impassível o tempo
que se espera.
Contra tempo que exaspera,
desespera.
E vai passando aceitando
inexorável, inflexível:
O vaivém da vida,
a sequência dos dias,
o cotidiano das horas,
a fuga dos minutos,
a eternidade de um segundo.
IV
A vida se esvai
no atropelo das gerações,
na corrente dos anos,
na ânsia dos impossíveis:
Removendo pedras,
cavando trincheiras,
construindo os caminhos do futuro.
V
Passa a bandeira.
Pioneiro dos pioneiros, vanguardeiros
sobraçando ideias,
reivindicações heroicas,
agitando o lábaro dos protestos.
VI
O encontro épico -
a selvageria das cidades: a vadiada,
a matilha amestrada,
O bando acordado dos acomodados retardados.
VII
Destroçada segue a bandeira
desfalcada.
No heroísmo da bandeira
alguma coisa se salva.
Fonte: "Meu livro de cordel", Global Editora, 2012.
Originalmente publicado em: "Meu livro de cordel", Editora Cultura Goiana, 1976.