Minha vida - Cora Coralina

Cora Coralina, poeta da terceira geração do Modernismo brasileiro

Poema de Cora Coralina



Num ano longínquo, numa cidade distante,
num dia incerto de um mês aziago,
nascia uma criança.
O Destino que presidia o evento,
ouvindo o primeiro vagido,
clamor de vida,
moveu-se invisível e depôs sua dádiva na cabeça da criança,
simbolizada numa chama viva e num punhado de cinza.

20 anos decorridos...
Ardia na fronte da adolescente uma chama viva
e era essa vida um punhado de cinza.

Tantos anos decorridos...
Ainda queima nessa cabeça uma chama viva
e é essa vida um punhado de cinza.

Chama viva. Cinza morta...
Minha vida. O símbolo do meu Destino.
  



Fonte: "Meu livro de cordel", Global Editora, 2012.
Originalmente publicado em: "Meu livro de cordel", Editora Cultura Goiana, 1976.