O livro de Bernardo (trechos)
Poema de Manoel de Barros
6
Estes brejos amanhecem
amarrados
de conchas.
7
A voz dos sapos de tarde
é destroncada
por dentro.
9
Ao lado de uma lata
de uma pedra
estou conforme.
14
Meu desagero
é de ser
fascinado por trastes.
15
O silêncio
está úmido
de aves.
16
Registros de lagartixas
nas ruínas:
elas têm sabimento de pedra.
18
A chuva
azula a voz
das andorinhas.
20
Águas que sabem
a pedras
sabem a rãs.
24
Caracóis
não gosmam
em latas.
26
Passam formigas perdidas
no lado esquerdo
da casa.
27
No olho songo
do lagarto
nasce um pedaço de nuvem.
30
O dia estava
em condições de boca
para as borboletas.
35
Quem ornamenta o azul
das manhãs
são os sabiás.
43
Bom é
constar das paisagens
como um rio, as pedras.
44
Meu requinte
é chegar às vilezas
com castidade.
45
Passarinho
faz árvore de tarde
nos andarilhos.
48
Pelo corpo
das latas podres
relvam rosas.
52
Uma açucena
me convidou
para de noite.
Fonte: "Poesia Completa", Editora Leya, 2010.
Originalmente publicado em: "Tratado geral das grandezas do ínfimo", 2001.
Fonte: "Poesia Completa", Editora Leya, 2010.
Originalmente publicado em: "Tratado geral das grandezas do ínfimo", 2001.